terça-feira, 6 de outubro de 2009

O poder do perdão



O poder do perdão
Perdão: os benefícios que a resiliência traz para nossa saúde física e mental
Por Ágata Székely

Quando me sugeriram o tema deste artigo, pensei: E se fizéssemos um sobre “O valor da vingança”? Eu me lembraria de mais exemplos...

Como canta Sir Elton John, o perdão parece ser um dos conceitos mais difíceis de se pôr em prática. Além disso, pelo que consegui investigar, é uma palavra mal-entendida.

Muitas vezes não perdoamos porque acreditamos que o perdão contribui para a injustiça. Quem causa dano não merece perdão, pensamos. Se perdoarmos, voltarão a nos ferir, vão se aproveitar da “nossa nobreza”. Às vezes, o desgosto com os prejuízos e as ofensas não se reduz nem com o passar do tempo. Podemos ficar enfurecidos com nossos pais pelos erros cometidos durante a nossa infância, com quem já abusou da nossa boa-fé, com aquela cunhada que nos chamou de “gorda” (ou assim deu a entender) num Natal há dez anos.

Não perdoamos ninguém. Nem sequer a nós mesmos.

Guardamos a ferida dentro da alma como um tesouro precioso, para tirá-la da memória de vez em quando e fitá-la, absortos, como se fosse um álbum de fotografias, uma joia de vitrine. Nesse momento, passamos outra vez pela mente o filme triste do episódio imperdoável e o revivemos. O desgosto com o passado se alimenta de grandes porções do presente. Eis aí o rancor.

Mas, na verdade...

... por que valeria a pena perdoar?

Só por uma questão religiosa, por puro altruísmo? Em um mundo tão absolutamente cruel em tantas ocasiões, há alguma questão que seja impossível de desculpar?

As informações a respeito disso são ricas e variadas. Os especialistas se dedicaram a estudar cientificamente o perdão e descobriram alguns fatos bastante surpreendentes.

Para conhecer e dominar o perdão, primeiro temos de saber de que “matéria” ele é composto, o que é verdadeiramente e o que não faz parte desse sentimento transformador.

Do que é feito o perdão


Fred Luskin é conselheiro, psicólogo da saúde e diretor do Projeto do Perdão, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Em seu guia O poder do perdão, que reúne casos e estudos tirados desse programa, Luskin explica que os problemas não solucionados são como aviões que voam dias e semanas sem parar e sem pousar, consumindo recursos que podem ser necessários em caso de emergência. “Os aviões do rancor se convertem em fonte de estresse e, muitas vezes, o resultado é um choque”, afirma Luskin. “Perdoar é a tranquilidade que se sente quando os aviões pousam.”

O especialista explica que perdão não é aceitar a crueldade, esquecer que algo doloroso aconteceu nem aceitar o mau comportamento. Também não significa reconciliar-se com o agressor. “O perdão é para nós, não para quem nos ofendeu”, diz Luskin. “Aprendemos a perdoar como aprendemos a chutar uma bola. Minha pesquisa sobre o perdão demonstra que todos têm a capacidade de se incomodar, mas a usam sabiamente. Não desperdiçam energia valiosa enredando-se em fúria e dor quando nada se pode fazer. Ao perdoar, admitimos que nada se pode fazer pelo passado, e isso permite que nos libertemos dele. Perdoar ajuda os aviões a pousar para que sejam feitos os ajustes necessários.”

Segundo Luskin, o perdão serve para relaxarmos e não significa que o agressor “se dê bem”, nem que aceitamos algo injusto. Ao contrário, significa não sofrer eternamente pela ofensa ou pela agressão.

Mas, e se a agressão tiver sido grave demais?

A lição de Kim

Era 8 de novembro de 1972, durante a guerra do Vietnã. A família de Kim Phuc tentou proteger-se num templo próximo quando ouviu o barulho dos aviões americanos. Mas o refúgio não foi suficiente contra as bombas de napalm que caíam do céu, e tudo explodiu em chamas.

Nick Ut, correspondente da agência de notícias Associated Press, tirou nesse momento a foto tristemente famosa que percorreu o mundo todo. Ali estava Kim, aos 9 anos, nua e em prantos, com grande parte do corpo coberta de queimaduras de terceiro grau. Apesar disso, a menina sobreviveu. Passou por 17 cirurgias e, depois de ser usada durante anos como símbolo da resistência do seu país, pediu asilo no Canadá. Mas o notável de sua história é que Kim perdoou o capitão John Plummer, oficial que ordenou o bombardeio de sua aldeia.

Em El don de arder [O dom de queimar], Kim conta à jornalista Ima Sanchís que, ao encontrar-se com o militar num evento, não o esbofeteou; preferiu abraçá-lo: “A guerra faz com que todos sejamos vítimas. Eu, quando menina, fui vítima, mas ele, que fazia o seu trabalho de soldado, também foi. Tenho dores físicas, mas ele tem dores emocionais, que são piores do que as minhas.”

Kim capitalizou suas antigas feridas de forma positiva. Hoje, viaja pelo mundo em campanha pela paz e é presidente da Fundação Kim Internacional, dedicada a dar assistência a vítimas de conflitos armados.

Mas qual o segredo para agir com tanta integridade moral?

Resiliência, a palavra mágica

Boris Cyrulnik sofreu com a morte dos pais num campo de concentração nazista, do qual conseguiu fugir quando tinha apenas 6 anos. Depois que a guerra acabou, ele ficou vagando de um campo a outro até chegar a uma fazenda controlada por uma instituição de caridade. Durante sua permanência, os vizinhos lhe ensinaram o amor pela vida e pela literatura. Mais tarde, ele decidiu ser médico e estudar os mecanismos da sobrevivência. Hoje é psiquiatra, neurologista, escritor, psicanalista e especialista em resiliência, um conceito psicológico que define a capacidade de superar as adversidades e ser forte durante as crises. “A resiliência é o antidestino”, diz Boris. “Dá trabalho, não é fácil, mas é um espaço de liberdade interior que permite não se submeter às feridas.”

Quem consegue superar tragédias ou sair de períodos difíceis de dor emocional pode abandonar o papel de vítima e começar uma vida nova, como Boris e Kim. Você já se perguntou por que algumas pessoas, oprimidas pelo desamparo na infância, caem na delinquência e se tornam agentes de agressão, ao passo que outras se recuperam, tornam-se pessoas de bem e são felizes, fortes, prósperas e bem-sucedidas? A resposta é a resiliência e, para consegui-la, o perdão é um dos ingredientes necessários.

De acordo com a psicoterapeuta Rosa Argentina Rivas Lacayo, presidente da Associação Latino-americana de Desenvolvimento Humano e da Associação de Orientação Holística do México, “sem perdão não podemos crescer nem ficar mais fortes com a adversidade. Também não conseguiremos ser flexíveis e resilientes. Algumas pessoas ‘cozinham’ a dor em fogo brando para mostrar ao mundo como foram maltratadas, e não querem perceber que assim se prejudicam. Ao mundo, não interessa o nosso passado, só o que somos capazes de fazer e dar agora. Quando nos apegamos à dor antiga, a autocomiseração embota a capacidade de dar e, quando assumimos o papel de mártires, ficamos à espera de que alguém resolva milagrosamente a nossa vida.”

Para Rivas Lacayo, o perdão nos aju­da a reconhecer e admitir que somos frágeis e que não precisamos esconder essa fragilidade. Quando nos tornamos conscientes dos nossos limites, evitamos que a experiência se repita.

Não é pouco, porém há mais: e se houvesse...

...provas científicas da utilidade do perdão?


O perdão, proteção contra as doenças

Além da saúde espiritual, existem várias provas de que deixar para trás a hostilidade protege a saúde física. E não é metáfora nem “modo de dizer”. Um estudo chamado Perdão e Saúde Física, realizado pela Universidade do Wisconsin, mostrou que aprender a perdoar pode ajudar indivíduos de meia-idade a evitar doenças cardíacas. Nessa pesquisa, foi descoberto que, quanto maior a capacidade de perdoar, menos problemas nas artérias coronárias surgem no decorrer da vida. Por outro lado, quanto menor a capacidade de perdoar, mais frequentes os episódios de doenças cardiovasculares.

Em relação à recordação das feridas, eis aqui outra informação importante: uma pesquisa indicou que pensar cinco minutos em algo que provoca agitação, raiva ou desgosto pode diminuir a variabilidade da frequência cardíaca (VFC), parâmetro da saúde do sistema nervoso que mostra a flexibilidade do sistema cardiovascular.

Para enfrentar e reagir ao estresse em boas condições, o coração precisa de flexibilidade. O mesmo estudo mostrou que esses cinco minutos de pensamento negativo desaceleram a reação do sistema imunológico, que defende o organismo.

Os benefícios do perdão (tanto os que protegem o corpo quanto os que aliviam e “limpam” a alma) não se aplicam só aos outros, mas também a n&ooacute;s mesmos, quando, apesar dos erros e culpas, somos capazes de nos perdoar e deixar de nos sentir merecedores de castigo. Perdoar não é esquecer nem persistir no erro. É começar de novo, com a experiência adquirida, sem os rancores a sobrevoar e confundir as possibilidades do presente.

Assim como o amor, o perdão não é al­go que se “dê” ao outro, mas um pre­sente vital que damos a nós mesmos.

Marcha Mundial Pela Paz e Pela Não Violência


A Marcha Mundial Pela Paz e Pela Não Violência começou!

Começou.

As notícias não param de chegar. Desde o primeiro dia de outubro, véspera da partida da equipe base da Marcha Mundial Pela Paz e Não Violência de Wellington (Nova Zelândia), milhares de pessoas em todo o mundo estão envolvidas em cerimônias oficiais e atividades públicas em comemoração ao início da viagem-paz de 90 dias pelas diversas realidades do mundo.

Em Wellington, parecia haver uma festa de cores para desejar boa viagem à equipe base – até o bronze da estátua de Gandhi, aniversariante do dia, ganhou o colorido de flores. No Quênia, cerca de 1.000 pessoas de diferentes etnias, que estavam em plena guerra civil há um ano, se reuniram em uma marcha liderada por crianças. Na Argentina, na cidade de Rosário, mais de 300 pessoas participaram de um ato público e ouviram participantes da MM e autoridades locais falarem em consonância com os ideais da Marcha. Em Israel, 20 organizações se reuniram e organizaram um evento pela não violência que marcou o dia de maneira especial.

No Brasil, não foi diferente. Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia… todos fizeram bonito no apoio à MM e merecem posts especiais. Aguardem!! Além disso, a semana de lançamento da Marcha no Brasil teve seu quê de maravilhosas surpresas, com a conclusão positiva de conversas que vinham acontecendo há tempos. Uma delas, com a Rede Globo de Televisão, que abraçou a idéia e começou a exibir VTs onde estrelas da casa dão “um passo pela paz” em apoio à Marcha Mundial.

Falando em comunicação eletrônica, a TV Cultura mostrou que seu apoio à Marcha está na linha de frente e apresentou, em seu jornal da noite, uma bela matéria sobre o ato de lançamento realizado em São Paulo.

Nos próximos dias, serão muitas novidades para contar, então, é bom passar por aqui de vez em quando ou seguir o Twitter da MM. São belos acontecimentos, alguns surpreendentes, como as torcidas do Corinthians e do Palmeiras trabalhando juntas, alpinistas escalando shopping, postos de recolhimento de armas, desconhecidos trabalhando em harmonia, o invisível sendo percebido nas idéias de pessoas apaixonadas pela paz.

A Marcha Mundial Pela Paz e Não Violência começou.

A Marcha Mundial pela Paz e Não-Violência é o ponto alto de uma campanha idealizada pela ONG Mundo Sem Guerras com o objetivo de criar consciência para as questões de paz e não-violência.
Siga a Marcha no Twitter

Reflexão sobre o que esta acontecendo ao planeta



Compreenda a função dos fenômenos naturais

Vivemos no planeta Terra, muitas vezes cheios de planos e vontades, sem tempo até para olhar em volta, tanta a nossa pressa de vencer, de chegar a uma meta escolhida, tamanha nossa ambição e nossa pretensão de sermos independentes.

Colocamos nossos problemas pessoais à frente de tudo e nos entretemos com nossas próprias dificuldades, como se apenas elas fossem importantes no universo.

Nos lembramos tanto de nós mesmos, que esquecemos de todo o resto: fazemos usos do planeta, sem nenhum respeito pelo ambiente que nos rodeia, sem pensar nas gerações que virão. Reclamamos demais, somos insatisfeitos demais e, ainda por cima, acabamos por ser arrogantes, colocando nossas vitórias como se elas dependessem apenas de nós, sem contar com uma Energia Maior, que se emana diretamente do Criador, aquele que é Senhor de todas as almas.

Na verdade, somos pessoas que, envolvidas pelos fatos cotidianos, acabamos por nos esquecer da nossa fragilidade, da incógnita que estar aqui representa.

Então, acontecem fenômenos naturais, que depressa nos lembram do risco de transitoriedade que corre toda a vida no planeta: tsunamis e terremotos, furacões e vendavais, enchentes e incêndios que devastam a terra e destroem a vida, causando milhares de vítimas. É como se esses acidentes ocorressem para chamar a atenção do homem para que se descentralize e perceba que sua vida não é o mais importante, que ele não é o Rei do Universo, e nem o próprio centro da sabedoria e da força.

Que os acidentes naturais, que ceifam tantas vidas e causam tanta dor, consigam levar as pessoas a perceberem sua fragilidade, e a pouca importância de seus problemas pessoais. Dessa consciência só pode brotar um homem mais humilde e mais consciente de sua situação humana.

Marina Gold/Especial para o Terra