quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Memorial Mokiti Okada




Membros dedicam parte do seu tempo, na preparação do terreno para construção do Memorial Mokiti Okada em Kyoto - Heyankyo

sábado, 13 de novembro de 2010

Encontro Regional Johvem da região Sul

Encontro da região Sul: Jovens ministram 850 Johrei em Porto Alegre




Um ano após inaugurar a sede própria do Centro de Aprimoramento do Rio Grande do Sul, a cidade de Porto Alegre, no dia 25 de setembro,  teve a permissão de sediar o Encontro Regional Johvem da Região Sul. Foi um dia inteiro de atividades, com a presença e a dedicação incansável de 150 jovens oriundos dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. 
No turno da manhã, os jovens ficaram reunidos no Centro de Aprimoramento, onde assistiram a apresentações artísticas e ouviram experiência de fé e a palestra do reverendo Dario Mota, responsável pela área São Paulo – Interior. Ele contou sua trajetória dentro da Igreja Messiânica, onde dedica há 34 anos e enfatizou, por meio de diversos exemplos, a necessidade de evolução da espécie humana. “Deus coloca todos os meios ao nosso lado para evoluirmos. Ele escolhe onde vamos morar para que possamos crescer. Tudo faz parte do Plano de Deus”, afirmou. 
O reverendo apontou, ainda, que nosso Ohikari é para acelerar nosso resgate com outras pessoas. “Aquele meu colega chato pode ter sido meu irmão em outras vidas, e agora veio para que eu possa resgatar as dívidas. Porém nós, seres humanos, sempre queremos dar um jeito de fugir dos aprimoramentos. O homem não quer sentir dor e não enfrenta as dificuldades. Precisamos vencer as dificuldades”, frisou. 
Em seguida, a jovem Cristina Blanco, responsável de jovens do Johrei Center Menino Deus, de Porto Alegre, relatou sua experiência. Ela contou que tinha muita dificuldade de seguir as orientações dos superiores, mas sentia a necessidade de mudar. Começou, então, assumindo o compromisso de coordenar as atividades dos jovens e acompanhá-los em sua missão. Fazendo tudo o que lhe foi proposto, ela foi, pouco a pouco, conquistando a amizade desses jovens, orientando-os frente às dificuldades e tendo a permissão de acompanhar seu desenvolvimento. 
Dessa forma, ela pôde ver a transformação de diversos jovens, que se tornaram mais compromissados com a Obra Divina e constatou que o número de jovens em seu Johrei Center começou a aumentar. Contente com tantas mudanças, Cristina começou a receber graças em sua vida profissional. Como corretora de imóveis, estava desanimada pela falta de negócios, porém, em seguida, as vendas começaram a se concretizar. 
Com este relato, mais uma vez, ela conseguiu unir uma massa de jovens em torno de um objetivo comum: a fé que liga ao Messias Meishu-Sama! 
Na parte da tarde, eles foram divididos em grupos, que se dirigiram a três diferentes parques da cidade, onde apresentaram o Johrei às pessoas. Foram ministrados 850 Johrei e entregues 1000 mini arranjos de flores.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Poesia E O Espírito Da Palavra: Reflexões Teológicas A Partir De Meishu-Sama


Heloisa Helena Guedes Terror [1]
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar algumas considerações sobre a poesia, em particular a poesia japonesa, a partir do conceito de “espírito da palavra”, fundamentando-se em Mei-shu-Sama, fundador da Igreja Messiânica Mundial. O texto parte dos fundamentos de seu pensamento para apresentar este conceito, o kototama, e sua força de atuação na linguagem humana e, em especial, na poesia. Meishu-Sama discute o papel da palavra na criação poéti-ca como forma de influir sobre o Cosmos, na medida em que pode contribuir para a harmo-nia ou a desarmonia do Universo, a partir do espírito, ou seja, do sentimento que esta pala-vra carrega.
PALAVRAS–CHAVE: Espírito da palavra, pensamento, poesia, papel da Arte.

The Poetics And The Spirit Of The Word: Theological Reflexions From Meishu-Sama

ABSTRACT
This paper has the purpose of showing some considerations about poetics, especially Japa-nese’s, departing from the concept of the spirit of the word. It takes Meishu-Sama’s thought to show that concept, the kototama, and its acting power in human language, particularly in poetics. Meishu-Sama, the beginner of World Messianic Church, discuss the word’s role in poetics creation as a mean of to have an influence on the Cosmos, in so far as it can cooper-ate for harmony or disharmony of the Universe, through the spirit, namely, the feeling that each word carries on itself.
KEY-WORDS: Word’s spirit, thought, poetics, Art’s role.

INTRODUÇÃO

“Poesia é espanto, admiração, como de um ser tombado dos céus, a tomar plena consciência de sua queda, atônito, diante das coisas. Como de alguém que conhe-cesse a alma das coisas, e lutasse para recordar esse conhecimento, lembrando-se de que não era assim que as conhecia, não sob aquelas formas e aquelas condi-ções, mas de nada mais se recordando”.
Fernando Pessoa [2]
O que é poesia?
Fernando Pessoa (1888-1935), o grande poeta português, tem mais a nos falar sobre poesia, definindo-a como “a emoção expressa em ritmo, através do pensamento” (PESSOA, 1972, p.261). E considera como elementos essenciais desta arte a presença de Sentimento, Cor e Forma.
Já Matsuo Bashô (1644-1694), o maior expoente do haiku, estilo característico da poesia japonesa, nos lembra a importância do olhar do poeta sobre o momento presente, para que o poema possa “buscar o eterno” e “desprezar o banal; deve surgir quase pronto, como num repente, num ímpeto, num instante” (DOURADO, 2003).
Difícil de ser definida, a poesia talvez possa ser entendida como a expressão da alma, dos sentimentos que o mundo faz brotar no ser humano a cada instante de sua vida: senti-mentos de delicadeza ou de dureza, de afeto ou de repulsa, de medo ou de atração. O poeta é aquele que consegue dar forma à atmosfera das almas dos homens, das suas vontades e pen-samentos, e cristalizá-la no mundo sensível através do “espírito” de seus versos, ou seja, da energia de suas palavras.
Essa idéia de que as palavras possuem energia, poder ou força é muito antiga entre as culturas, e aparece associada a ritos religiosos praticados na invocação de bênçãos e prospe-ridade para a terra. Esta utilização estava possivelmente ligada à crença na força espiritual das palavras para atrair situações de sorte ou provocar infortúnios. No caso da cultura japo-nesa, esta crença se faz presente desde os mais antigos períodos da história do país, e foi documentada por livros como o Nihonshoki (TOMITA, 2006, p.306), o segundo mais antigo sobre a história do Japão, compilado no ano de 720. Na tradição judaico-cristã tam-bém encontramos referência a esta idéia no trecho bíblico:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio em Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e nada do que foi feito, foi feito sem ele (João, I, 1-3).
Para Mokiti Okada, fundador da Igreja Messiânica Mundial (IMM), religião surgida no Japão em 1935 e trazida para o Brasil em 1955, podemos identificar nesta citação, prin-cipalmente na expressão “todas as coisas foram feitas por ele”, a ação do “espírito da pala-vra” que, na sua essência, é Deus.
Para entender melhor este conceito, vamos primeiro tentar conhecer um pouco mais sobre o pensamento de Meishu-Sama, nome religioso de Mokiti Okada, que significa “Se-nhor da Luz”.

OS ENSINAMENTOS

A essência que permeia todo o pensamento de Meishu-Sama é a trilogia Verdade, Bem e Belo.
A Verdade é a vida em perfeita harmonia com as Leis da Natureza, é o próprio estado natural das coisas. Portanto, as doenças, a violência social, as crises financeiras etc. repre-sentam distorções da Verdade.
O Bem se manifesta através de pensamentos, sentimentos e atitudes altruístas, que e-manam amor, misericórdia e desejo de justiça social; num sentido mais amplo, expressa um profundo sentimento de dedicação a toda a humanidade.
O Belo se expressa através da Natureza e da Arte. A Beleza na Arte é a manifestação da sensibilidade do artista na expressão de seu sentimento através da harmonia das formas ou dos sons. O contato do homem com o Belo eleva seu nível espiritual, na medida em que revela seus sentimentos de Verdade e de Bem, aproximando-o da essência da vida, desper-tando a partícula divina que nele existe.
Para ele, a Arte tem uma missão no mundo. Esta missão consiste em elevar o nível es-piritual do homem através do seu contato com as manifestações artísticas de nível elevado – “uma Arte que, deleitando a pessoa, eleve o seu sentimento”. É assim que ele vê o Belo co-mo uma das formas de Salvação.

O ESPÍRITO DA PALAVRA

Inestimável
É o som inebriado de Verdade!
Atinge e limpa todos os cantos da Terra. [3]
Definir o processo da linguagem como uma relação inseparável entre o pensamento e a palavra não é propriamente uma novidade. Vários são os teóricos que falam disto. Vy-gotsky, em “Pensamento e Linguagem”, trata da indissociabilidade entre a constituição do pensamento e a verbalização deste pelos indivíduos, estabelecendo mesmo uma junção entre pensamento e linguagem:
O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensa-mento e da linguagem, que fica difícil dizer se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério da palavra, seu componente indispensável. Pareceria, então, que o significado poderia ser visto como um fenômeno da fala. Mas, do ponto de vista da Psicologia, o significado de cada palavra é uma gene-ralização ou um conceito. E como as generalizações e os conceitos são inega-velmente atos do pensamento, podemos considerar o significado como um fenô-meno do pensamento. Daí não decorre, entretanto, que o significado pertença formalmente a duas esferas diferentes da vida psíquica. O significado das pala-vras é um fenômeno de pensamento apenas na medida em que o pensamento ga-nha corpo por meio da fala, e só é um fenômeno da fala na medida que esta é li-gada ao pensamento, sendo iluminada por ele. É um fenômeno do pensamento verbal, ou da fala significativa – uma união da palavra e do pensamento (VI-GOTSKY, 1988).
Mas Meishu-Sama traz uma nova perspectiva na abordagem deste assunto, na medida em que acrescenta um novo elemento a esse “amálgama”: o kototama, o espírito da palavra.
O Universo e os seres que nele vivem manifestam-se sob dois aspectos: o yang, re-presentado pelo vertical, e o yin, pelo horizontal. No ser humano, a verticalidade cor-responde ao espírito e a horizontalidade ao corpo. A união espírito-matéria gera a energia vital, essência da vida. O mesmo princípio está presente no vocábulo kototama [4] , em que koto (palavra) contém a partícula to (parar), e tama significa “espírito”. Kototama quer dizer, na verdade, “espírito que mora, permanece na palavra” (MEISHU-SAMA, 2003b, p.143), portanto, a força, a energia da palavra.
Segundo Meishu-Sama, a palavra tem origem no pensamento, que se manifesta por seu intermédio, expressando a vontade de quem fala ou escreve. Assim, ele aponta três elementos neste processo: a vontade, o pensamento e a palavra propriamente dita, ou seja, o pensamento em ação.
Ele acrescenta que “na realização do pensamento ocorre o discernimento do correto e do incorreto, do bem e do mal” (MEISHU-SAMA, 2005, vol. 4, p.53-54) , ou seja, a atua-ção da sabedoria. Esta vai se transmitir à palavra através do que ele chama de “espírito da palavra”, o kototama, impregnando-a de força sintonizada com o Bem ou com o Mal. Esta força exerce, então, grande influência no mundo pelo fato de os sons e as letras das palavras emitirem vibrações que contribuem, de forma decisiva, para a harmonia ou a desarmonia do universo.
Portanto, a emissão de um kototama harmonioso, bom e belo depende essencialmente da alma de quem o transmite; quanto mais próximo o pensamento estiver do Bem, maior será a força positiva de transformação que esta palavra exercerá no ambiente e nas pessoas que a receberem; “dessa forma, o mundo do bem ou do mal, da alegria ou da tristeza, do certo ou do errado depende do kototama proferido pelo ser humano” (MEISHU-SAMA, 2005b, p.241).
Em seu ensinamento intitulado “A força da Verdade e a purificação”, ele identifica es-sa dimensão como “reino do espírito das palavras” e esclarece que nele ecoam 75 fonemas espirituais, alguns deles inaudíveis para o ser humano. A forma como eles são dispostos, a partir das palavras utilizadas, os aproximam do Bem ou do Mal, o que, por sua vez, aumenta ou diminui as impurezas do ambiente. O espírito das palavras ligadas ao Bem são as que estão de acordo com a Verdade; “elas ressoam agradavelmente aos ouvidos porque pene-tram até a alma, núcleo da consciência humana” (FMO, 1997, p. 23-24).
A partir dessa perspectiva pode-se entender a importância atribuída às orações e man-tras pelas religiões orientais: são emissões sonoras que harmonizam os ambientes e as pes-soas, em conseqüência da pureza que deixam fluir.
Seguindo o mesmo princípio, as palavras escritas carregam a energia e a vibração do au-tor, transmitindo ao leitor a sua sintonia espiritual. Meishu-Sama explica que "os textos refle-tem, através das letras, o pensamento da pessoa que os escreveu, o qual é transmitido para o pensamento de quem os lê”. No caso de textos sagrados, ele completa:
Conseqüentemente tudo aquilo que escrevi guiado pela Vontade Divina irradia a Luz de Deus para o leitor. (...) Assim, quanto mais a pessoa lê, mais aprofunda sua fé, e mais purificado vai ficando o seu espírito. [5]
A partir deste raciocínio, podemos concluir que* a literatura pode se constituir em um instrumento para a formação de um mundo melhor, assim como a Arte em geral. Nas palavras de Meishu-Sama, “o *Bem é o pensamento gerado pela Verdade e o Belo é a forma criada pelo Bem ”.
Em seus ensinamentos ele estabelece o Belo como uma das colunas de Salvação da hu-manidade, atribuindo à Arte a missão de “enobrecer os sentimentos do homem e enriquecer-lhe a vida, proporcionando-lhe alegria e sentido” (MEISHU-SAMA, 2005a, vol. 5, p. 54).
A felicidade do homem se realiza na medida de sua salvação, ou seja, quanto mais alto for o seu nível espiritual, maior será o seu grau de felicidade, aqui mesmo nesta vida. Por isso Meishu-Sama utiliza a expressão Paraíso Terrestre para indicar o Mundo Ideal. E para ele, este será o Mundo da Arte, porque esta, na sua essência, satisfaz as condições da Verdade, do Bem e do Belo. E sua valorização e divulgação precisam ser vistas como um dos caminhos capazes de conduzir o ser humano à felicidade.
O objetivo da Fé é polir a alma e purificar os sentimentos. Existem três manei-ras para conseguirmos isso: pelo sofrimento oriundo não só de abstinência ou penitências, mas também de danos e catástrofes; pela soma de méritos e virtudes e pela elevação da alma por influência da arte de alto nível. Dentre elas, o ca-minho mais rápido é este último. E não existe nada melhor, pois nossa alma vai sendo polida imperceptível e prazerosamente “*(MEISHU-SAMA, 2005a, vol.5, p.86).

A POESIA

Meishu-Sama sempre mostrou uma afinidade muito grande com a Arte, tendo se dedi-cado à caligrafia, à pintura, à ikebana e também à poesia.
No decorrer de sua vida, compôs cerca de cinco mil e quinhentos poemas, tendo sido talvez a sua forma de expressão preferida para retratar o cotidiano; a maioria deles faz parte de seu diário, todo ele em formato de poesia, um documento muito precioso para seus se-guidores porque revela seus dois lados, o humano e o divino. Ele não se considerava um poeta; utilizava a poesia como forma de expressão por considerá-la um veículo eficaz para transmitir a essência do seu pensamento, ao mesmo tempo em que se constituía na manifes-tação do Belo, polindo a alma do leitor. Ele confirma isto em um de seus poemas:
A poderosa
Força do kototama nasce da pureza.
Vale, pois, a pena polir sempre a nossa alma. [6]
Abriremos aqui um espaço para comentar brevemente a questão da tradução literária e suas implicações para a compreensão do pensamento do autor e de seu estilo, já que os textos de Meishu-Sama consistem em traduções, e que nossa questão central é a força, a energia do autor que impregna as palavras por ele utilizadas.
Em que proporção os extremos da tradução literal e da interpretativa alteram o origi-nal? Segundo Neide Nagae (2006, p.116), a intelecção é diferente da tradução, e esta apre-senta um nível de dificuldade maior, porque muitas vezes faltam as palavras exatas para expressar o que o autor disse: “é um trabalho de transposição de elementos culturais de um país para o país de língua de chegada”, e no caso da língua japonesa para a portuguesa, mui-tas vezes a dificuldade da equivalência é tão definitiva que o tradutor acaba por tomar o termo de empréstimo.
No caso específico de tradução de poemas, vamos ouvir Fernando Pessoa, que além de um grande poeta, mostrou-se um “espírito indagativo, atilado e dialético”, demonstrando suas preocupações estético-filosóficas em obras em prosa como “Idéias Estéticas”. É desta obra a sua definição de que um poema “é uma idéia transformada em emoção, comunicada a outrem por meio de um ritmo”, acrescentando que este ritmo é duplo em um só: um verbal ou musical e outro visual ou imagem. A tradução de um poema deve ser feita buscando a fidelidade absoluta à “idéia ou emoção que constitui o poema” e ao “ritmo verbal em que essa idéia ou emoção está expressa”, o que se constitui em um aspecto a ser cuidadosamente observado e ambicionado pelo tradutor.
E nos textos sagrados? É possível conservar o “espírito das palavras” do texto origi-nal? Meishu-Sama introduziu duas orações de base na doutrina messiânica; a primeira delas chama-se Amatsu Norito e data de uma época que não se pode precisar, mas é preservada como documento histórico a partir do início da Era Heian (794-1192), Sua linguagem é muito antiga e sua compreensão tornou-se difícil tanto para os pesquisadores quanto para as pessoas em geral. Meishu-Sama deixou registrada uma justificativa para sua adoção na li-turgia da IMM: “suas palavras possuem um espírito muito elevado e uma ação intensa, ten-do o poder de purificar o Céu e a Terra”. Ela é entoada em japonês e uma das razões para isto deve estar ligada à dificuldade de compreensão do seu significado, como se expôs acima.
Já a segunda oração acima referida, intitulada Zenguen Sandji, foi composta por Meishu-Sama e entoada pela primeira vez em 1934. Seu conteúdo expressa a concretização do mundo ideal, denominado por ele de Paraíso Terrestre, e “ao entoá-la com vigor, os fiéis fazem eclodir os fonemas do espírito da palavra, que ressoarão por todo o Universo”. A questão do espírito da palavra está fortemente presente no teor dos vocábulos utilizados e também pelo fato de que ela é sempre entoada em japonês, embora sua tradução seja dispo-nibilizada aos fiéis. O que se percebe é a preocupação com a manutenção da força da pala-vra a partir da língua original, que possivelmente se alteraria com a tradução.
Fica aqui uma questão que deve ser pensada e discutida mais amplamente, porém não neste momento, por não caber no objetivo do presente trabalho; mas, com certeza, em poste-rior estudo, não se poderá desconsiderar a importância do grau de conhecimento e de envol-vimento do tradutor com o autor e com o assunto dos textos a serem traduzidos, para que se consiga captar este espírito e expressá-lo harmonicamente na tradução.
Os poemas de Meishu-Sama são composições em que ele fala da Natureza, dos senti-mentos e também do sagrado. Alguns desses poemas são hoje entoados como salmos, por ocasião dos Cultos; vários deles expressam seu sentimento em épocas de sofrimento; outros, suas emoções, como a alegria e a tristeza, os aborrecimentos e os desejos, comuns a qual-quer ser humano.
Já passei por várias atribulações
Houve momentos em que me vi sob águas escaldantes
E, outras vezes, sobre tênues camadas de gelo. [7]
Diferentes formas da poesia japonesa foram utilizadas em suas composições. Vale a pena trazer para o presente texto algumas informações e considerações a respeito destas formas poéticas, que normalmente não fazem parte do nosso universo literário.
Uma delas é o estilo waka, *denominação genérica dada à poesia encontrada nos primeiros escritos japoneses datados do século VII. Uma das formas de *waka é o poema tanka, composto de 31 sílabas poéticas (versos de 5-7/ 5-7/ 7 sílabas), que alcançou seu auge entre os séculos X e XVI, na vida social dos aristocratas. Literalmente tanka signifi-ca “poema curto”, em oposição a choka, *“poema longo”, outra variação poética do estilo *waka [8]
A mais antiga coletânea dessa modalidade de poesia japonesa foi compilada no século VIII (743 – 759). Recebeu o título de Man’ yoshu (Miríades de Folhas), composta de 4.516 poemas em 20 volumes, escritos por mais de 400 praticantes, do imperador ao simples camponês. Na interpretação de Meishu-Sama, esta obra revela uma grande verticalidade, ou seja, alta espiritualidade, pela temática lírica refinada e pela expressão de sentimentos no-bres e de caráter religioso, ou seja, de um kototama altamente benéfico. No capítulo V desta coletânea encontramos o seguinte poema:
Foi dito e transmitido, de geração a geração
Que o Yamato [9] , a terra amada por Deus,
é o país onde prospera o espírito da palavra [10]
Ainda hoje a família imperial realiza, no início do ano, uma reunião cerimoniosa, de-nominada Shin-nen-uta gyotai ou Uta-gyokai – hajime, em que o imperador, a impera-triz, os príncipes e as princesas apresentam seus tankas. O povo participa enviando tankas feitos a partir do tema previamente anunciado pelo imperador. Para ilustrar a im-portância do tanka na história do Japão, lembremos que o Hino Nacional, o Kimigayo, é um poema tanka [11]
A grande maioria dos poemas compostos por Meishu-Sama segue esta forma, o tanka, que ele trata, genericamente, por waka.
Quando foi assegurada a liberdade religiosa no Japão, através da Constituição promul-gada em 1947, e as atividades da IMM puderam ser desenvolvidas oficialmente, Meishu-Sama publicou a "Coletânea de Salmos", editada em julho de 1948, contendo poemas waka que passaram a ser entoados nos cultos em forma de salmos. No prefácio, ele comenta:
A poesia ‘waka’ tem um poder misterioso. Consegue-se expressar em apenas trinta e uma sílabas o que não se consegue dizer com milhares de palavras. E o seu poder de mover as pessoas, então, é inimaginável. O presente livro reúne poemas que eu próprio escolhi e que, entre outros temas, cantam o sentimento, a moral e a virtude, expressando aquilo que eu sentia na ocasião em que os escre-vi. Como não sou poeta, compus a maioria sem pensar muito, exprimindo-me com naturalidade. Meu único cuidado foi torná-los de fácil compreensão, man-tendo a elegância e a beleza do espírito das palavras. [12]
Portanto, os poemas compostos em forma de waka são um ponto de apoio da fé para os seus seguidores e, ao mesmo tempo, dão uma imagem viva e real de Meishu-Sama. Os dois poemas que se seguem apresentam uma síntese de seu pensamento, a trilogia Verdade – Bem – Belo e o altruísmo:
A Verdade é o caminho, o Bem é a ação,
o Belo é o sentimento. Desejo ardentemente
que todos os cultivem [13]
É possuindo um caloroso
amor pelo homem que se ama a Deus,
a ponto de se lhe entregar a vida [14]
O poema abaixo consta da coletânea Yama to Mizu (Montanha e Água), publicada em 1949, e nos fala da sensibilidade de Meishu-Sama na busca da essência da natureza de forma simples, sutil e artística:
A flor de lilás contempla
Suas largas folhas caídas,
Rolando, ao sabor do vento. [15]
A estrofe superior do poema waka deu origem ao haikai, poema de 17 sílabas poéticas, distribuídas em 5-7-5 sílabas, que possuía, a princípio, caráter satírico e humorísti-co. Posteriormente, esta forma foi perdendo o tom cômico até transformar-se no atual haiku, registrado a partir do século XVII, e que no Brasil é conhecido como haicai.
O haiku é uma forma de poesia que retoma a harmonia da filosofia e do simbolismo taoístas, que expressam suas idéias na forma de mitos, paradoxos e imagens poéticas, na tentativa de transcender a limitação imposta pela linguagem usual.
Da mesma maneira que a meditação, os versos do haiku nos fazem voltar a atenção e a consciência para o momento presente. Na meditação tradicional, sentada, a atenção está na respiração. No haiku ela volta-se para a natureza, enquanto que o mundo do poema waka são os sentimentos humanos. Trata-se, portanto, de meditação na ação. Seu formato de pe-queno poema relaciona-se com a busca da essência do momento expressa de forma compacta, revivendo ou saboreando as impressões rápidas e fugazes do instante cristalizado e valorizan-do as cores, a natureza e o elemento surpresa. Estes elementos podem ser encontrados neste poema de Bashô, que Meishu-Sama considera um dos melhores:
O canto das cigarras
penetra no silêncio
e nas rochas. [16]
Meishu-Sama aplica a esse poema a expressão “o saber das coisas”, mono o shiru em japonês, que ele define como “experimentar ilimitadamente tudo o que existe no mundo, penetrar, captar a essência das coisas e exprimi-la de alguma forma”. Ele considera que poe-mas como esse aprimoram o gosto estético de quem lê e despertam seus bons sentimentos.
Na sociedade japonesa, muito da vida prática do povo é mantido de acordo com os ritmos maiores da natureza, chamados “mandamentos sazonais”, um conjunto de regras e regulamentos que detalham quais ações devem ser realizadas em determinadas épocas do ano. Freqüentemente, as datas de entrada e saída das estações configuravam-se mais impor-tantes até do que a própria temperatura na decisão do momento correto de se acender o for-no (NEVILLE, 2005, p. 88-89). Por isso, antigamente, a cada mudança de estação, mudava-se o jogo de pratos que era servido à mesa, as pinturas e tecidos que faziam parte da decora-ção da casa, os quimonos das mulheres, os arranjos florais. As estações, com sua temperatu-ra, pássaros, cores e flores característicos entravam pelas grandes janelas e portas de correr da casa japonesa. O que estava dentro integrava-se ao que estava fora, no jardim. Foi para testemunhar isto que o haiku surgiu por volta do séc XV.
O haiku apresenta algumas variações. Uma delas é o kanku, uma composição assim descrita no livro “Luz do Oriente”:
Trata-se de um jogo de palavras onde só é determinado o primeiro verso, e as pessoas têm de completar os dois seguintes, para competir nas habilidades de agilidade mental e humor. Existe, ainda, o toku, no qual se determina o último verso. Oficialmente, esses dois tipos de poemas são denominados kantoku; entre-tanto, parece que, popularmente, quando se fala em kanku, subentendem-se as duas formas. [17]
Meishu-Sama criou, em setembro de 1930, a “Associação Ten’nin*”, que promo-via sessões de poesia *kanku humorística, dirigidas por ele mesmo. O objetivo era de criar e apresentar composições que, expressando a situação social da época de forma bastante irônica, ou com um pouco de humor, fizessem as pessoas se desligar por completo do ambi-ente conturbado da sociedade e encher de gargalhadas as reuniões. . Dessa forma, a “Asso-ciação Ten’nin*” era a melhor expressão do temperamento alegre de Meishu-Sama. Sele-cionou algumas das composições desta época e publicou-as com o nome de *Warai no izu-mi, em português, “Fonte do riso”, vinte anos depois, em janeiro de 1951. No prefácio, ele esclarece o objetivo da publicação:
O que será que a sociedade japonesa da atualidade, ou seja, os japoneses estão realmente necessitando? As pessoas conscientes poderão dizer que é o riso.
Podemos dizer que a nossa sociedade encontra-se num estado infernal, uma vez que o povo sofre com impostos, falta de alimento, alto preço das mercadorias, dificuldades financeiras, aumento de crimes, doenças incontáveis, etc.
(...)
É melhor esquecer, com uma explosão de risadas, essa atmosfera sombria e tris-te. A publicação do presente livro tem esse objetivo. Portanto, senhores leitores, leiam uma vez e riam bastante! Leiam três vezes e façam uma pândega! Riam, riam! Riam muito e construam o Paraíso! Pois dizem que as risadas são as flores do Paraíso! [18]
Podemos observar seu temperamento brincalhão neste poema:
Tencionava compor
Um poema sobre a geada.
Dorminhoco que sou,
Quando acordei,
Nem vestígios encontrei. [19]
Os dois estilos da poesia waka, tanto o kanku, principalmente na variação humorística, quanto o tanka foram muito utilizados por Meishu-Sama como instrumentos de expansão na sua obra religiosa. O primeiro para trazer à vida das pessoas a alegria e a espontaneidade que o cotidiano às vezes subtraia, principalmente no Japão dos tempos da Segunda Guerra Mundial; o segundo porque, além de possuir, na sua opinião, um grande poder de “mover as pessoas”, revela a intimidade e a afinidade que Meishu-Sama possuía com sua forma, mostrando-se um veículo muito agradável e eficaz para registrar seu pensamento e suas experiências.
Além desse caráter utilitário da poesia dentro de sua obra religiosa, não se deve esquecer de que, na sua concepção, a Arte, de forma geral, incluindo aí a poesia, é o caminho mais rá-pido para se polir a alma. É o que se chamaria, em japonês, de do, ou seja, o caminho espi-ritual, e que Meishu-Sama chama de dori, o caminho perfeito, que, em última instância, é Deus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A palavra, tanto falada como escrita, se constitui para Meishu-Sama, como foi visto, na ação concretizadora da vontade e do pensamento. Mas seu enfoque principal, ao desenvolver este conceito, é introduzir um outro elemento: o espírito da palavra.
Este conceito está no centro de sua doutrina, na medida em que a palavra é o meio atra-vés do qual o ser humano se relaciona com o Cosmos. Ela pode se constituir, ou não, na mani-festação da Verdade e do Bem, pilares da harmonia do Universo, e adquirir a forma do Belo, cumprindo assim a missão de contribuir para o equilíbrio do ambiente em que vivemos.
Dentre as formas de Arte, focalizamos aqui a poesia, bastante utilizada por Meishu-Sama como expressão do Belo, através de composições tanto de temática religiosa como coti-diana, passando inclusive pela poesia humorística, estilo que recebe dele um olhar no mínimo inusitado, se pensarmos na importância e finalidade a ela atribuídas por um líder religioso. Mas isto pode estar nos revelando o lado humano de quem sabe como é difícil praticar o Bem num mundo nem sempre tão bom.
Ficou aqui registrada a questão das dificuldades implícitas na tradução literária, e em particular da poesia, principalmente no que diz respeito à fidelidade de sentimentos, emoções e do “espírito” dos versos, em especial de textos sagrados.
Existem outros aspectos que poderiam ser analisados a partir deste tema nas obras de Meishu-Sama, aplicando-se o conceito do “espírito da palavra” às caligrafias ou a textos em prosa. O que se apresentou nesse trabalho é apenas parte das possibilidades de abordagem deste assunto à luz do seu pensamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DOURADO, Gustavo. Haicai alma da poesia*.* JBN – Jornal das Boas Novas. São Pau-lo: FMO, janeiro 2003, nº 18.
FUNDAÇÃO MOKITI OKADA (1997), Orações, hinos e salmos. São Paulo.
MEISHU-SAMA. (1982) Luz do Oriente. São Paulo: Fundação Mokiti Okada (FMO), vol. 1
______. (1983) Luz do Oriente. São Paulo: FMO, vol. 3.
______. (1995) O Pão Nosso de cada dia. São Paulo: FMO.
______. (2003a) Coletânea de Salmos. São Paulo: Lux Oriens
______. (2003b), Evangelho do Céu. São Paulo: Lux Oriens, vol. 3.
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[1]Mestranda em Ciências da Religião na UMESP.
[2]PESSOA, 1972, p.37.
[3]MEISHU-SAMA, 2003a, p. 66.
[4]ideograma言霎 pode ser lido, em japonês, como kototama, kotodama ou genrei.
[5]MEISHU-SAMA, 1983, p. 165
[6]MEISHU-SAMA, 2005b, p.177
[7]MEISHU-SAMA, 1995, p. 62.
[8]Tan, curto; cho, longo e ka, poema.
[9]Denominação arcaica do Japão.
[10]O autor é Yamanoue-no-Okuti
[11]O hino japonês é o hino nacional mais curto que se conhece, pois possui apenas uma estrofe, que é cantada três vezes. O Kimigayo, como é conhecido, teve a sua origem no ano 905, durante a era Heian, quando foi publicado no primeiro livro de canções japonesas, o Kokinwakashu. A letra do hino originalmente celebrava a longevidade de idosos e autoridades. No ano de 1013 a letra sofreu uma alteração, mas foi na era Meiji, no ano de 1888, que a nação adotou o hino oficialmente e este se tornou uma música de louvor ao imperador, considerado uma figura divina, descendente dos deuses. Depois da Segunda Guerra Mundial o hino transfor-mou-se em uma celebração ao povo japonês. A melodia foi composta por Hiromori Hayashi. A letra do hino é a seguinte: | Kimiga yo wa Chiyo ni yachiyo ni Sazare ishi no Iwao to Nari te Koke no musu made | Que o teu reinado de paz dure bastante! | Que dure por centenas de anos | Até que essa pequena pedra se torne uma rocha maciça. | E os musgos venham cobri-la.
[12]MEISHU-SAMA, 1983, p.157
[13]MEISHU-SAMA, 1995, p.120.
[14]MEISHU-SAMA, 1982, p.268
[15]MEISHU-SAMA, 1983, p.158
[16]MEISHU-SAMA, 2005a vol.3, p.35
[17]MEISHU-SAMA, 1982, p. 289
[18]Prefácio da obra Warai no izumi (Fonte do riso), publicado em 30 de janeiro de 1951.
[19]MEISHU-SAMA, 1982, p.290.